Naceu no 1976, Marcelo Moscheta é um artista de Campinas, estado de São Paulo, Brasil. É um artista viajante que vê o mundo como os românticos do século XIX ou como os grandes exploradores do Ártico O artista vê a paisagem como um sistema de representação onde o homem pode medir o seu mundo. A partir de sua experiência nesses locais remotos, Moscheta trabalha com materiais e técnicas não convencionais através do desenho, gravura, fotografia e instalação. Suas obras abordam a noção do efémero e os esforços da humanidade para compreender e recriar aspectos físicos e geográficos encontrados em paisagens naturais.
Moscheta recebeu o BFA e MFA da Universidade Estadual de Campinas e recebeu numerosos financiamentos e prêmios no Brasil. Ele participou de várias exposições coletivas recentes e exposições individuais em São Paulo, Frankfurt, Lisboa e Milão. Suas obras estão em acervos de museus no Brasil e na Bélgica e em coleções particulares nos EUA, Itália, Rússia e América Latina. Suas últimas residências incluem velejar no alto Ártico, caminhadas no deserto do Atacama e a extensão da fronteira entre Brasil e Uruguai.


 

 

O Projeto


O Projeto desenvolvido pelo artista brasileiro Marcelo Moscheta durante dez dias no Salar de Atacama consistiu, num primeiro momento em uma aproximação e entendimento da paisagem marcante do lugar. Através de caminhadas diárias, o artista percorreu os entornos da região do Salar e as vilas de San Pedro de Atacama, Guatín, Toconao, Rio Grande e Machuca, catalogando rochas, desenhando e fotografando as inúmeras paisagens contidas naquela região desértica. Tais anotações e rascunhos serão depois trabalhados pelo artista em seu atelier no Brasil, finalizando assim um ciclo de criação que se inicia no lugar mas que é plenamente desenvolvido no atelier.

Importantes foram os apoios de colaboradores destacados pela Plataforma Atacama como os guias do Hotel Explora e toda sua equipe, Camilo e Sael, experts locais e exímios conhecedores do deserto e de Ana Maria Baron, arqueóloga e profunda conhecedora de seu métier e dos primeiros habitantes daquele lugar.

A idéia de localização geográfica é uma marca do trabalho de Marcelo Moscheta. Comum em suas instalações e desenhos, a latitude e a longitude são encarados pelo artista como o próprio desenho do homem sobre o mundo, um desenho frio, uma visão extremamente racional e precisa do lugar do próprio homem, mas que soma-se ao mundo dos sentidos e das sensações. Pensando nisto, o artista procura o lugar exato onde a linha do Trópico de Capricórnio corta o seu caminho e dispõe-se a marcar sua passagem com uma linha de rochas. Esse tipo de intervenção é realizado já a 2.000 anos, quando as primeiras culturas locais passam a indicar caminhos e criar altares ritualísticos. Marcelo utiliza então de um procedimento arcaico para assinalar um conceito moderno de divisão do globo terrestre, alinhando 15 metros de rochas e assinalando perenemente aquele ponto como a latitude 23° 26′ 16″ Sul. Essa ação foi filmada e fotografada, e será apresentada como um vídeo posteriormente.



Marcelo é consciente dos limites de suas intervenções no próprio espaço/território e assim, toma como uma forma de enfrentamento pacífico suas primeiras intervenções e abordagens. Uma profunda reverência pelo entorno natural vai lentamente dando lugar à intimidade que é necessária para o fluir das ações e idéias.. que podem vir a acontecer meses, até anos depois... inda mais em um lugar tão potente como o deserto, em que toda ação humana é reduzida a um ato ínfimo de alteração do local. o Horizonte torna-se companheiro constante da viagem e a sensação de se estar lançado solto no mundo é constante. No deserto o artista e é confrontado com as necessidades mais básicas de sua humanidade e encontra-se solitário em meio ao amontoado de areias e rochas - primeiras testemunhas da idade do planeta, no Atacama ele encontra-se com a origem da vida e da própria criação.

É certo que grande parte de suas criações virá dos cadernos e mapas, apuntes de viagem tão comuns em sua produção. Neles, o interesse pelo elemento mineral é uma abordagem clara para a montagem que o artista prepara para sua mostra no ano que vem. O deslocar-se em paisagens repletas de sal, gesso, liparita, cobre e tantos outros tem para o artista um apelo fortíssimo. Acostumado a colher, classificar, reordenar e deslocar rochas, o contato com tais formações geológicas revela-se tentador. Marcelo imagina uma grande instalação que ocupe grande parte da Galeria Leme em São Paulo e que faça referência a tais minerais.

Desde 2007, quando realizou sua primeira residência, viajando para a França, Moscheta tem por hábito criar somente depois de se relacionar profundamente com o local. O ponto de partida é sempre numa ação de deslocamento sobre o território e assim o artista vai colecionando paisagens tão ricas e diversificadas como a megalítica Bretanha, as fronteiras de Brasil e Uruguai, de Portugal e Espanha e até a Amazônia e o Pólo-Norte.

O artista acredita que a experiência “do novo” traz muitos benefícios à criação, ela aguça os sentidos mais básicos da percepção do mundo, deixando à flor da pele tudo aquilo que escapa normalmente em uma situação de rotina.

Todo território taz suas peculiaridades, seus limites e autorizações. Assim o artista se vê como um camaleão contemporáneo, numa briga incessante para absorver seu entorno, processá-lo e depois transformar essa experiência em obra de arte. No Atacama, tudo é superlativo e o homem encontra-se sob o peso de um céu imenso, de um horizonte que nunca acaba e de uma luz que é inebriante.

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Créditos das fotos: Guy Brett - Tomás Espinosa - Hamish Fulton - Marcelo Moscheta - Alexia Tala.

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